segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Bom para o quê?

Uma particularidade que percebi nos franceses, através das minhas observações ao longo das temporadas de três meses que passo em Paris, é que eles buscam o saber ser, através das reflexões que tenham de algum modo, uma base racional. Se obtiverem lógica nas ideias, o caminho do pensamento tomado é acolhido com entusiasmo.
Nos jantares entre amigos, sempre me lançam algumas perguntas sobre o Ser... E, como gosto de divagar, aceito quase sempre o convite a falar e colocar em pauta alguma reflexão.
No último jantar que tive em Paris, nesta minha temporada de julho, um amigo me fez duas perguntas: “Podemos saber totalmente quem somos? Conhecer a si é mesmo uma necessidade fundamental?”.
Se olharmos ao longo da história da humanidade, iremos constatar a imensa presença de pensadores e com isto, chegaremos a conclusão que obter respostas clarificadoras sobre si mesmo é uma busca universal e fundamental à vida.
Gostamos de desvendar enigmas. 
Gostamos de mistérios desvendados.
 Afinal... Quem realmente somos?
Somos, antes de tudo, peças de um mosaico que compõem o nosso ser.
Somos uma estrutura complexa e mutante que perfaz impossível o conhecimento total sobre si.
Se conhecer absolutamente é uma ilusão.
No entanto, um bom começo para “se saber” está em realizar e aceitar a diversidade e a disparidade de nosso ser.
O que Jung chamava de “Processo de Individuação” significa tomar o saber progressivo sobre a nossa diversidade interior... Somos individualmente múltiplos e contraditórios.
Sentimos ao longo da vida que podemos uma coisa; podemos outra, queremos uma coisa; queremos outra... Mas apesar desta ambiguidade, podemos organizar um pessoal funcionamento na vida e através dele, nos mobilizarmos para permanecermos nos caminhos escolhidos.
Cada pessoa dispõe de uma energia única.
Saber Ser envolve dialogar com as próprias forças subterrâneas, para conquistar uma iniciativa de vida através da potência pessoal.
A sua força reside na sua habilidade verdadeira.
Onde está a sua?
A minha está em fazer da minha nata tendência a reflexão, o meu destino prático e profissional.
Adoro pensar.
Existe uma frase do romancista e dramaturgo irlandês Samuel Beckett que diz “Bom... apenas para isso”.
Ela exprime o que? Ela justifica o que você faz, se o que você faz representa a sua habilidade.  Esta frase de Beckett, fala também sobre uma certeza... A certeza de descobrir entre tudo o seu positivo.
Você é boa nisso, ele é bom naquilo e ela naquilo outro... O seu bom não é o meu dom. A sua facilidade, não é a minha.
Qual é a sua habilidade? Quais habilidades habitam o seu ser?
Se você sabe responder a estas questões, você descobriu então, o essencial do seu ser.
Respondo dessa maneira ao meu amigo francês Patrick e digo que ele é muito bom de cozinha, pois estávamos na degustação de uma entrada constituída de uma sopa fria de cenoura, manga com limão e uma pitada de açúcar... A receita dele era uma viagem... Estávamos também imersos em deliciosas reflexões... Ele é também bom de conversa. A filha dele é ótima percussionista, a mulher excelente apaziguadora de conflitos e lá, naquela noite, conheci uma japonesa que se chama Saiaká que era um requinte na indagação e por isso uma ótima jornalista.
Eu, finalmente, respondo a Beckett “Minha vocação é pensar sobre o ser”.
E você?
Ao invés de ficar se sentindo inferior, olhando o melhor do outro, busque localizar o seu melhor.
Quais são suas habilidades para o cotidiano?
Parodiando Beckett: Você é bom para que?


4 comentários:

  1. Mestre Manoel,
    Você é bom para pensar sobre o Ser, mas também para Muito Bom para apaziguar nossos corações!
    Amei a crônica, pois me fez entender um pouquinho mais sobre quem sou eu nesse mundo,. i.e, meus talentos e aptidões.
    Obrigada.
    Beijos
    ps: Que vontade de estar nessa roda em Paris.....

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    1. Denise
      Estamos na mesma roda dos que amam pensar Saber Ser...Sem limites geograficos
      Um beijo
      Manoel

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  2. Que reflexào importante!!! Só buscando aquilo que somos bons ficaremos realizados e vendo o mundo colorido !! Adorei esse seu post !Saudades querido professor Manoel !!Ao descobrir organizar mesas para almoços,jantares e afins me realizei....Cada uma tem uma historia e um proposito diferente.
    Mil bjs Ana Paula

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    1. Ana Paula
      Enfeitamos a vida através da nossa diversidade...Cada ser uma obra em unicidade e singularidade.
      Um beijo
      Manoel
      Ps Saudades

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