terça-feira, 11 de junho de 2013

Fazer Alegrias e Felicidades

Nos fins das tardes de domingo, quando sento no meu pátio para estudar, ouço o burburinho das pessoas que ficam no bar ao lado do meu prédio. Quando começa a transmissão do futebol, as vozes se potencializam nos gritos de excitação, às vezes raivosos, às vezes contentes. Tudo acontece como se fosse a sonoplastia de algo invisível para mim, mas que posso bem imaginar através dela as cenas e com isso acompanhar as sequências.
Muitos poderiam afirmar que ali está a demonstração da felicidade humana através de uma diversão. Tal conceito é um engano.
As pessoas misturam as palavras porque confundem sobre a diferença entre alegria e felicidade.
Emoções e sentimentos possuem diferenças e são respostas a processos distintos em relação à vida.
Uma viagem a Paris, ao Vietnam ou a Disney são garantias de felicidade?
Quando seu time faz um gol, o seu namorado agradece a sua gentileza, quando se é promovido no trabalho, quando se compra um carro, quando se constrói uma casa vive-se eventos positivos que atingem o nosso sistema límbico, localizado no cérebro que produz como resposta uma emoção.
A palavra emoção deriva de “movere”, ou seja, um acontecimento positivo nos move, nos mobiliza e produz uma resposta emocional.
Emoção é uma resposta do nosso sistema cerebral de prazer ou desprazer diante de um evento do nosso dia.
Seu time perdeu? A tristeza virá como resposta, mas infelicidade é outra questão.
Alguém que você gosta muito telefona e ainda conta uma boa notícia? Isso terá o poder de “mover” a alegria, mas a felicidade é igualmente outra questão.
Portanto quando o seu noivo pede você em casamento num momento especial, como resposta emocional terá a alegria, mas está longe de ser a garantia da presença da felicidade.
O que é a felicidade?
É um sentimento e está relacionado com o modo pessoal de se avaliar, de como você se percebe em relação ao seu corpo e em relação as suas competências.
Por isso uma pessoa pode estar vivendo momentos de grandes alegrias e carregar a sensação de infelicidade intrínseca e, portanto se considerar infeliz.
O que se compreende sobre a filha de Michael Jackson? Paris Jackson tenta o suicídio cercada de aparatos de riqueza, cercada de potenciais razões para a alegria, mas denuncia através desta tentativa que está desabastecida de algo interno.
As pessoas torcem para que as coisas boas aconteçam e muitas vezes elas chegam, mas são desperdiçadas porque estão destituídas de um senso de valorização de si por si mesma. Sob um trecho da entrevista do médico Dr Luiz Roberto Londres, posso ajustar a esta ideia quando afirma que “Hoje a gente vê que outras dimensões estão sendo mais valorizadas que as pessoais: tamanho, empresa, dinheiro, conglomerados.” Se ganha fora e se esquece de ganhar outras potências dentro de si.
Quantos afirmam de maneira impaciente ao que não está bem: “Você tem tudo e não é feliz!” São os analistas selvagens que condenam e julgam a dor do outro sem o conhecimento psicológico das verdadeiras causas.
Sempre me vem neste aspecto as pessoas como Marylin Monroe que atingem a notoriedade sem se transformarem internamente com o que conquistaram. Continuam a carregar um menino diminuído, uma menina insegura desabastecida da noção de capacidade ou competência pessoal. 
A felicidade se alimenta da ideia saborosa que damos a nós sobre algum valor pessoal, sobre uma competência diante de um propósito de vida.
Sabe-se por estudo que quando uma pessoa ganha um grande prêmio, com uma soma em dinheiro, o que ela adquire promove um estímulo de excitação que terá a capacidade de mantê-la em estado de alegria por dois anos, mas que de modo algum irá modificar o registo da felicidade.
O que fazer?
Passar a encontrar um propósito na vida. Se apropriar dele e se investir da percepção das competências internas para realiza-lo.
Você sabe o seu?
Lembro-me de uma amiga que me disse que o dela era passar amor. Orgulhava-se muito disso e ultrapassava todos os problemas cotidianos para sempre viver este aspecto.
Como disse o filósofo Espinosa a terra é uma substância que se mantém pelo propósito de continuar sendo ela. Joga-se tudo de poluente e ela continua se refazendo sem perder o seu propósito de existir. A Terra é insistente, pois estamos só maltratando-a com poluentes imensos.
Um excelente jogador de futebol tem o propósito de jogar e fazer a sua parte com competência. Se for famoso, mas não tiver noção de valor pessoal pode até viver a alegria do sucesso, mas não irá conseguir experimentar a vivência da felicidade.
Felicidade está longe de ser euforia.
O meu propósito na vida é explicar a dor de modo que cada um que passa por mim possa saber trata-la e muitas vezes evita-la.
Ultrapasso as barreiras que a vida me impõe, sejam elas físicas ou não e me instigo na continuidade porque sei para onde ir, o porquê ir e para que ir.
Outro dia estava com uma dor imensa devido a uma virose potente que me invadiu. Tinha três aulas a dar e decidi ultrapassar o que sentia para realizar o meu propósito. Ao final da terceira turma, mais do que alívio de ter cumprido um dever, mais do que a alegria de ter dado e vivido momentos tão bons com meus alunos, senti a felicidade de realizar o meu propósito e a felicidade derivada da percepção da força que meu jogador interno me liberou para eu fazer o gol dos Propósitos.

Pode-se escolher ser um grande pai, um grande médico, uma grande doadora de amor, um grande aconselhador, o importante é que se abasteça com a certeza de suas certezas.
O importante é que você possa entrar em campo consciente do porquê corre de um lado para outro, driblando os adversários para fazer o seu gol. 
O importante é que você sempre corra através de um jogador interno seguro de seu valor.
Faça um gol em seus propósitos e grite sua vitória na conquista da felicidade.
Ponha seu time em campo.

Imagens: GettyImages

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