quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Fazer a Vida


O ano começou e nele estaremos durante 12 meses. Em apenas um de seus 365 dias podemos inaugurar um começo, uma retomada, pois uma existência inteira pode ser condensada e, portanto representada em um dia: mil vidas; mil mortes; mil começos e mil recomeços.
Basta uma jornada para se conquistar mais certezas. Como é bom conquistar certezas sobre si e sobre outras tantas coisas. Mesmo a de não se poder realizar algo nos orienta, nos assegura. 
Estas reflexões surgiram em meus pensamentos enquanto assistia ao filme “Renoir” de Gilles Bourdos, que se passa em 1915 na Côte d’Azur e é lá no crepúsculo da vida física que o pintor impressionista Auguste Renoir, vive a perda da sua mulher, as dores lancinantes no corpo e a imobilidade progressiva pelas artroses que tem nas mãos, nos braços e nas pernas.
Renoir pinta como ele é. Aliás, o que fazemos é sempre o nosso reflexo. Um dia, seu filho Jean Renoir, que se tornou um dos maiores cineastas da história do cinema francês, concernido pelo testemunho do supremo esforço que seu pai fazia para realizar a vida cotidiana, diz: “Meu pai... Pare de pintar... Você já retratou tudo que a vida contém” e Renoir o responde: “Meu corpo tenta terminar com as minhas forças físicas, mas mantenho o poder sobre ele ao continuar minhas telas apesar do meu esgotamento”.
Um dia na vida de Renoir pode ser observado como uma dimensão metafórica. O firme propósito de continuidade o insufla de uma energia que ninguém mais espera nele. A cada noite parece morrer, mas em cada amanhecer renasce através do inabalável e impressionante desejo de criar. Já não mais andava, mas ainda procurava para cada manhã, um novo cenário, uma nova cena do cotidiano. Renoir dispensava as cores escuras, pois dizia que cabia a ele conceber apenas o belo e deixar para a vida o resto. Falava que cada ser humano deveria ficar atento para colocar o belo em cada gesto e palavra. 
Suas cores, no impressionismo tem uma intenção filosófica: suas mulheres no banho, os piqueniques na margem do rio, a languidez da nudez, revela o modo que encontrou para vencer o que não poderia deixar invadir. A vida de Renoir se prolongava através da sua alma repleta de vibrações.
Vencer a vida se torna impossível, mas deixa-la agir sem alguma oposição é semelhante a pegar uma tela e deixar os pincéis na obra do acaso.
Confesso que nunca fui muito tocado pelas telas de Renoir, mas após saber que cada uma representa sua vitória sobre o destino e que suas cores falam da vontade de criar apenas o belo, me programo para retornar ao Museu d’Orsay e observar as obras deste impressionista com um novo olhar.
A vida compreendida traz a possibilidade de uma nova leitura sobre aquilo que parecia nada. Hoje cada tela, além da cena retratada, trará para mim a subjetiva mensagem de uma intensa luta. 
Passei o Natal e a entrada do Ano Novo na Escócia e na viagem que fiz pelo Highland onde foi filmado o último 007, fui ver o lugar onde se encontram um dos vestígios da civilização da Idade do Bronze. Ali toquei nas pedras que a quatro mil anos atrás utilizaram nas construções. Estavam intactas pela solidez de sua matéria. Elas atravessaram o tempo conservadas na forma que esta civilização esculpiu. Imortalizam a força das criações humanas.
Assim também em Renoir: a força da alma esculpe a existência, o faz vencer, ultrapassar os próprios limites. 
Determinações insuflam fôlegos.
Escrevo esta crônica de início de 2013 em Saint Germain, no café Bonaparte, a véspera de minha ida a Londres, e como no meu propósito colocado em uma das minhas crônicas de 2012, de levar apenas o essencial, comprei hoje uma valise menor do que havia programado. Vou colocar nela o essencial para viver esta viagem.
Organize sua valise e boa viagem nos dias deste 2013 que já deu início. Afaste o acaso com o fôlego que os propósitos definidos trazem.
Renoir colocou em sua bagagem de Vida: DETERMINAÇÃO.
Algumas dicas para um “Detox Psiquico” muito em voga aqui em Paris...
- Elimine de seu vocabulário as palavras que depreciam a si.
- Resgate o flanar para exercitar o olhar o belo... (Este caminhar está na última moda por aqui) Trinta minutos por dia sem poder enquanto caminha falar e olhar o feio e sem pensar no mau.
- Aprenda uma coisa nova por semana.
- Nesta semana vá ao seu armário e retire dele o que tenha mais de um ano sem uso e doe. Abra espaço para o novo.
Por aqui os brechós começaram por esta filosofia: o que não se usa mais tem que circular. Libere...
Eu já fiz este trabalho.
Lembre-se:
Determinações insuflam fôlegos.

8 comentários:

  1. Ufa estou sem folego!!!!! estava sentindo falta desse seu empurrão para viver melhor
    magnifico! bjs
    sonia di marino

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  2. Seja bem vindo ao nosso cotidiano, acordando nossas idéias, colorindo nossas vontades, encorajando nossas atitudes!!!!
    Bjs, Vânia

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  3. Desapego !!!!
    Beijos quentinhos do Rio,
    Clarisse

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  4. Amei o texto.Minha palavra escolhida para 2013 é: DETERMINAÇÃO abço,Nina

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  5. estou adorando os teus blogs, mas estamos sentindo muita falta das aulas. VOLTA LOGO. Alice Kelson

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  6. Fala ai meu amigo,tudo bem por ai?! te desejo um feliz 2013 e q/ aproveite bem a viagem estamos todos com saudades! Abraçao do João! Fik com Deus!!!

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  7. Manoel,

    Acredito na vontade que predispõe à determinação. A vontade de ser que DETERMINA o fazer!Que essa determinação seja uma constante em nossa vidas! Que os folêgos insuflem-se na busca, no fazer aquilo que é do bem, do bom, do belo!Obrigada Manoel, por mais este sopro; e que sopro de sabedoria!Puro folêgo!beijo, Andréa J.

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  8. Estou tentando um Novo recomeço, tentando focar mais as vitorias que as derrotas. a esperança que o desanimo, é um trabalho bem consciente, mas, dificil. O Ano que passou não foi la muito bom, mas, estou VIVA e com Saude, tenho que partir dai.Tenho que acreditar que vou vencer.,e lutar para isso. O amanhã vai ser melhor.! Beijo, Sônia

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