segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os Seus Amores, Você Os Conhece? - Parte 2


Os Seus Amores, Você Os Conhece? 
Parte 2

Nas minhas viagens, gosto muito de caminhar pelas cidades que visito... Caminho muito, mas aqui no Rio, pelo fato de correr oito km pela manhã, não o faço. Outro dia, depois de apanhar um exame, resolvi incorporar meu andarilho e lá fui percorrendo lugares pelos quais só transito de carro. Após um tempo nesta promenade, uma voz feminina, sem que eu me desse conta da presença, me disse: “Me desculpe, mas amei a tua sacola retrô da Phebo”... Quando me virei em sua direção, vi que se tratava de uma estilosa mulher e me senti até lisonjeado e ela prosseguiu com um ligeiro cantar baiano meio Gabriela. “Onde é que a conseguiste?” Quase respondi meio Nacib - “Vixe, é fácil!”, mas foi com o meu carioca que expliquei que havia acabado de comprá-la na Granado, para carregar mais facilmente o que havia adquirido em volume de estoque. Amo estocar... aí... já é uma questão zodiacal: virgem planeja o cotidiano como se fosse um planejamento existencial.
Se o amor, como se define em psicanálise, tem como causa em seu centro, “o vazio da Coisa em que um significante é requerido para entrar no espaço da incompletude”, pensei que a partir de então na vida desta “Gabriela Urbana” iria faltar esta sacola... Encontrou o objeto de amor... que não iria lhe pertencer, mas por ter liberdade interna e automerecimento fez o que cabia a si mesma: tentou saber ao máximo onde encontraria o objeto do desejo. Tive até vontade de lhe dar a sacola, mas como carregaria na minha caminhada o meu estoque virginiano?
Ela amou uma coisa que a faria se sentir melhor, mais interessante, para completar seu estilo também retrô e de certo modo, fazê-la mais passível ainda de ser amada.
Todos temos uma parte “hiante” que busca o outro. O problema é que em algumas pessoas este “hiante” é imenso, deixando um vasto espaço para a busca deste “Grande Outro”. Falta a estas pessoas de grande hiato interno, uma dose de amor narcísico, formador do amor próprio. 
Uma pessoa sem nenhum amor próprio, se entrega inteira não só ao que será o seu par, mas ao que será, neste caso, uma perigosa formação de seu sujeito próprio. 
O “Amor a Si” nos preserva. Deixa um espaço protegido onde Outro amado não será capaz de entrar.
A conquista de uma dose equilibrada de amor narcísico mantém os olhos abertos, para que a entrega seja realizada com capacidade de fortalecer a autoconservação do eu.
No mesmo dia do encontro com a minha Gabriela, na visita que realizei ao Museu de Belas Artes, encontrei um quadro sobre o amor, com a imagem de uma mulher cercada de dois anjos: a sua esquerda o anjo do amor e a sua direita – lado da razão – o anjo da sabedoria. Preciso falar mais?
O amor a si se constrói sobre as bases da formação da Identidade de Força. Criar esta Identidade antes de se fixar na busca do amor é uma sabedoria que aquela alegoria pictórica tão simbolicamente nos indica. 
O que é isto? 
Toda vez que você luta por uma coisa para você mesma como pessoa; toda vez que você assume a responsabilidade de lutar para ser você na autoimagem que deseja; toda vez que você se alimenta de orgulho sobre algo que tenha realizado; toda vez que você vence um traço seu inibidor de sua expansão, como vencer uma timidez, um excessivo constrangimento; toda vez que você retira de sua autoimagem uma ideia que a define de modo depreciativo, você preenche a si com o amor narcísico.
Você no amor equilibrado se preserva; define limites de tempo; preserva o direito de realizar escolhas; de manter amizades; realizar atividades em que o Grande Outro não esteja necessariamente inserido. Disponibiliza apenas uma parte de si mesma para o outro. 
Como bem disse Millôr em seu livro A Bíblia do Caos, “o amor convencional – relação a dois – fica entre o amor-próprio, individual, e o amor impróprio, a três”. Pois é, o amor tem que ficar exato no ponto de equilíbrio, para não se tornar um engodo amoroso.
Penso, depois destas ponderações sobre a nossa demanda de amor na vida, que a Gabriela da minha caminhada pelo Rio, saberá encontrar a sacola retrô, saberá também encontrar o amor e saberá sobretudo, se manter inteira nesta entrega... Pelo menos assim fantasio...
Pela sua atitude, esta menina mulher me pareceu ter uma Identidade de Força, enamorada antes de tudo de si mesma, e pude imaginar que ela saberá não apenas encontrar o amor, mas, sobretudo através da sua segurança interior, saberá Viver.
Mas... se você desejar saber o que representa e o que buscamos no “Outro”, na próxima semana falarei sobre a busca do Grande Outro.
Até lá, seja andarilho na reflexão sobre a Busca de Si Mesmo.