quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sonhos Indolentes e Sonhos Potentes


Tenho prazeres que gosto de viver no cotidiano. Um deles é comprar CD para ouvir no carro. Alguns, acerto na escolha e viajo nas letras... Estou com um do Línox que me leva às vezes torcer por uma ligeira retenção no tráfego, para que eu possa permanecer mais um pouquinho de tempo na faixa nove que começa assim:
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”
Adoro letras que se desdobram, narrando sentimentos e que me levam a pensar.
Destes devaneios, inspiro reflexões sobre a vida, sobre mim e quase sempre retiro alguma atitude para plantar.
Ultimamente tenho refletido sobre aqueles que sonham, mas vivem seus desejos de vida apenas em pensamentos.
O novo porteiro do meu prédio é tudo, menos a sua própria função... É visível para mim, que está na sua vida desabitado de sentido no que faz. Fala de futebol e fica claro que queria ser o Neymar; fala de ator e queria ser um Murilo Benício “Tufão” numa mistura ingênua de realidade e fantasia... Queria ser tudo que não é, mas seus desejos estão aprisionados em seus sonhos. Como muitos, fica a espera de um olheiro que leia seus pensamentos, fica a espera de alguém que descubra suas ambições e como uma criança, fica a espera de um pai que a leve ao seu mundo sonhado. 
Quantas Marias, são Marias ninguém querendo ser alguém, mas sem qualquer atitude na direção da realização dos seus desejos. Outras sonham com a magreza e no real vivem distantes do hábito que as levariam a se aproximarem do corpo sonhado.
Sonhos possíveis que são apenas sonhados se tornam “Sonhos Indolentes”.
Sonhos potentes são os que fazemos funcionar como planos e com isto se tornam vocabulário de nossa alma dizendo onde gostaríamos de estar.
A atleta Carolina Basílio na página Perfil do jornal O Globo, conta que teve que dar uma guinada em sua vida, quando parada em sua moto num sinal de trânsito em Niterói, numa fração de segundos, uma caminhonete avançou e decepou sua perna direita. Esta atleta de várias medalhas paraolímpicas em natação afirmou – “Hoje sou mais vaidosa do que antes do acidente. A vida é assim mesmo, a gente perde umas coisas e ganha outras.” E prossegue – “As pernas me deram muitas alegrias, mas estou tentando deixar isso para trás e conquistar novas alegrias com os braços.”
Carolina ao invés de olhar o que falta, fixou no que permaneceu intacto para projetar seus Sonhos Potentes de nadadora. Não ficou, como muitos, no “querer queria”.
Quantos “querem”, mas pela indolência, preguiça, insegurança e infantilidade permanecem imobilizados no “querer queria”.
Londres 2012 continua nos dando exemplos além de Carolina.
Nosso ginasta Diego Hipólito que passou por cirurgias em 2008, 2009, 2011 e no início deste ano, diz: “Tenho um sonho de ser medalhista olímpico e não vou abrir mão dele enquanto puder buscá-lo.”
As Tochas Olímpicas nestes atletas estão acesas em seus sonhos, iluminando suas decisões e perspectivas de vida.
As circunstâncias, bem como seus inerentes contextos podem, como tão bem afirmou Carolina Basílio, apresentar limitações, mas elas não definem limites na vida.
Se o meu porteiro compreendesse que para ser Neymar não basta apenas sonhar, tem que suar a camisa, tem que se colocar a frente de si mesmo, ele sairia de sua melancólica existência de Sonhador Indolente.
O importante não é buscarmos poder e cargos, mas sermos referência naquilo que fazemos. 
Sonhos indolentes não são sonhos, são pesadelos.
A distância entre você e sua frustração é do tamanho de sua visão limitadora.
Meu porteiro poderia se tornar o melhor porteiro que conhecemos, se transformaria até em conteúdo de sonho alheio.
Os sonhos que não nos prejudicam e os que não tenham o poder de ferir alguém, podem ser considerados planos de vida que orientam nossas direções. São sonhos isentos de maldades, vinganças e amarguras.
Tenho uma certa coleção de sonhos que podem ser vistos materializados na minha realidade, outros seguem me fazendo torcer pela chegada de mais um dia, outro ainda me fala do meu desejo que as pessoas se aproximem mais das realizações. O que faço para que este sonho não se torne um sonho indolente é tentar através destas palavras despertar a vontade de varrer a ideia do impossível. 
Como bem diz outra musica do mesmo CD: “O segredo é nascer para o que se vem.”
Sonhos só ganham chances de se tornarem realidade, quando extraímos de seu conteúdo as margens de nossas ações.
Os atletas olímpicos brasileiros Carolina e Diego, traçam as nossas esperanças nas medalhas e na vida através da busca de realização de seus sonhos.
Sabem que:
Pessimismo não é realismo, é arma exterminadora da vida possível.
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”