segunda-feira, 30 de julho de 2012

Reinventar a Vida - Fase 3

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"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." 
(Oscar Wilde)

Semana que vem iniciam as turmas do novo curso "Reinventar a Vida - Fase 3" ministrado pelo professor Manoel Thomaz Carneiro.

Turma 3ª feira das 14:30 h às 16:30 h
Início: 07 de agosto - Término: 25 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da Tarde das 14:30 h às 16:30 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Turma 4ª feira - Turno da noite das 19:30 h às 21:15 h
Início: 08 de agosto - Término: 26 de setembro

Centro de Eventos do Ed. Leblon Corporate - R. Dias Ferreira, 190 - Leblon
Informações e reservas: (21) 9983-5751 (com Ilana)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sonhos Indolentes e Sonhos Potentes


Tenho prazeres que gosto de viver no cotidiano. Um deles é comprar CD para ouvir no carro. Alguns, acerto na escolha e viajo nas letras... Estou com um do Línox que me leva às vezes torcer por uma ligeira retenção no tráfego, para que eu possa permanecer mais um pouquinho de tempo na faixa nove que começa assim:
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”
Adoro letras que se desdobram, narrando sentimentos e que me levam a pensar.
Destes devaneios, inspiro reflexões sobre a vida, sobre mim e quase sempre retiro alguma atitude para plantar.
Ultimamente tenho refletido sobre aqueles que sonham, mas vivem seus desejos de vida apenas em pensamentos.
O novo porteiro do meu prédio é tudo, menos a sua própria função... É visível para mim, que está na sua vida desabitado de sentido no que faz. Fala de futebol e fica claro que queria ser o Neymar; fala de ator e queria ser um Murilo Benício “Tufão” numa mistura ingênua de realidade e fantasia... Queria ser tudo que não é, mas seus desejos estão aprisionados em seus sonhos. Como muitos, fica a espera de um olheiro que leia seus pensamentos, fica a espera de alguém que descubra suas ambições e como uma criança, fica a espera de um pai que a leve ao seu mundo sonhado. 
Quantas Marias, são Marias ninguém querendo ser alguém, mas sem qualquer atitude na direção da realização dos seus desejos. Outras sonham com a magreza e no real vivem distantes do hábito que as levariam a se aproximarem do corpo sonhado.
Sonhos possíveis que são apenas sonhados se tornam “Sonhos Indolentes”.
Sonhos potentes são os que fazemos funcionar como planos e com isto se tornam vocabulário de nossa alma dizendo onde gostaríamos de estar.
A atleta Carolina Basílio na página Perfil do jornal O Globo, conta que teve que dar uma guinada em sua vida, quando parada em sua moto num sinal de trânsito em Niterói, numa fração de segundos, uma caminhonete avançou e decepou sua perna direita. Esta atleta de várias medalhas paraolímpicas em natação afirmou – “Hoje sou mais vaidosa do que antes do acidente. A vida é assim mesmo, a gente perde umas coisas e ganha outras.” E prossegue – “As pernas me deram muitas alegrias, mas estou tentando deixar isso para trás e conquistar novas alegrias com os braços.”
Carolina ao invés de olhar o que falta, fixou no que permaneceu intacto para projetar seus Sonhos Potentes de nadadora. Não ficou, como muitos, no “querer queria”.
Quantos “querem”, mas pela indolência, preguiça, insegurança e infantilidade permanecem imobilizados no “querer queria”.
Londres 2012 continua nos dando exemplos além de Carolina.
Nosso ginasta Diego Hipólito que passou por cirurgias em 2008, 2009, 2011 e no início deste ano, diz: “Tenho um sonho de ser medalhista olímpico e não vou abrir mão dele enquanto puder buscá-lo.”
As Tochas Olímpicas nestes atletas estão acesas em seus sonhos, iluminando suas decisões e perspectivas de vida.
As circunstâncias, bem como seus inerentes contextos podem, como tão bem afirmou Carolina Basílio, apresentar limitações, mas elas não definem limites na vida.
Se o meu porteiro compreendesse que para ser Neymar não basta apenas sonhar, tem que suar a camisa, tem que se colocar a frente de si mesmo, ele sairia de sua melancólica existência de Sonhador Indolente.
O importante não é buscarmos poder e cargos, mas sermos referência naquilo que fazemos. 
Sonhos indolentes não são sonhos, são pesadelos.
A distância entre você e sua frustração é do tamanho de sua visão limitadora.
Meu porteiro poderia se tornar o melhor porteiro que conhecemos, se transformaria até em conteúdo de sonho alheio.
Os sonhos que não nos prejudicam e os que não tenham o poder de ferir alguém, podem ser considerados planos de vida que orientam nossas direções. São sonhos isentos de maldades, vinganças e amarguras.
Tenho uma certa coleção de sonhos que podem ser vistos materializados na minha realidade, outros seguem me fazendo torcer pela chegada de mais um dia, outro ainda me fala do meu desejo que as pessoas se aproximem mais das realizações. O que faço para que este sonho não se torne um sonho indolente é tentar através destas palavras despertar a vontade de varrer a ideia do impossível. 
Como bem diz outra musica do mesmo CD: “O segredo é nascer para o que se vem.”
Sonhos só ganham chances de se tornarem realidade, quando extraímos de seu conteúdo as margens de nossas ações.
Os atletas olímpicos brasileiros Carolina e Diego, traçam as nossas esperanças nas medalhas e na vida através da busca de realização de seus sonhos.
Sabem que:
Pessimismo não é realismo, é arma exterminadora da vida possível.
–  “Anda,
Joga teus passos pra frente.
Não há de ser diferente,
Dos tantos que já te trouxeram
Pra cá.
Planta,
Tudo da vida da gente,
Um dia foi a semente
Que o tempo vem revelar...”

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Estrada de Salles e O Caminho de Si




A Estrada de Salles e O Caminho de Si
A palavra – caminho – em seu significado literal é faixa de terreno, mas também pode representar a vida que seguimos; os rumos que definimos para a nossa destinação diante do que nos acontece.
O filme “Na Estrada” de Walter Salles, uma adaptação do livro de Jack Kerouac, é o caminho do jovem escritor Sal Paradise, uma versão da vida do próprio Kerouac, que após a morte de seu pai conhece Dean Mouriaty e passam a compartilhar aventuras e desventuras na estrada durante cinco anos.
Embora Sal seja o narrador, a alma do filme é o seu amigo Dean, um rapaz que vive a vida buscando se atordoar para se afastar de sua angústia.
Quantos criam uma vida extremamente intensa, tentando fugir de si mesmos, como se pudessem se desconectar dos próprios sentimentos.
No mundo interno de Dean o outro é apenas um instrumento para realizar seus desejos, não importando o quanto fere, o quanto desilude sonhos de quem o ama.
Os “Deans” da vida para serem por nós reconhecidos exigem malícia, pois não apresentam semblantes que carregam um punhal invisível capaz de machucar os corações e os sonhos de quem deles se apegam.
Em torno deste personagem malicioso, sedutor está, Marylou a garota fetiche de 16 anos, Carlo o poeta melancólico também apaixonado por Dean, o escritor Sal e Camille sua mulher mãe de seus filhos. Para além desses, orbitam outros personagens em seus mergulhos de desilusão perdas e rupturas, nos sinalizando que a vida que vale a pena ser vivida é aquela em que uma pessoa se apropria com determinação de sua trajetória.
Ao longo dos cinco anos dessa história, vamos percebendo o quanto Dean não se sensibiliza com a dor do outro. Caberá a cada um, observar o que acontece e tomar consciência da necessidade de agir para a preservação de si, realizando a difícil tarefa de se desesperançar e desistir de um amor, de um sonho e de uma amizade.
Pois é, difícil mas muitas vezes inevitável desistência.
Marylou o abandona ao desistir conquista-lo. Decide renunciar aos seus sonhos apaixonantes e transgressores para ingressar na vida sublimada que o princípio da realidade exige. Casa-se com um marinheiro para construir uma família.
Este momento de Marylou é a representação do rito de passagem de um sonho idealizado para a construção madura da vida. Para conseguirmos realizar esta transição, precisamos como ela dar um adeus definitivo sem nos permitir olharmos para trás. Exatamente o oposto da saída da mulher de Ló na destruição de Sodoma... Se olharmos não querendo abandonar nossos antigos caminhos paralisamos petrificados.
Camille, sua mulher, representa a ponderação e o desejo de Dean por uma estrutura e estabilidade que a sua natureza neurótica o impede de manter-se. Ela após intermináveis tentativas de compreensão, o expulsa de casa definitivamente, num momento de resgate profundo de si mesma, quando percebe que todos os recursos de tolerância a levariam para uma vida de solidão acompanhada. Quantas pessoas se expõem a este duro contexto por não conseguirem assumir o controle das próprias vidas.
Dean prossegue em sua coerência de indiferença e egoísmo até com o seu grande parceiro Sal ao abandona-lo deixando-o no México inteiramente só, num momento de absoluta fragilidade física. Sal se vê obrigado a realizar que aquela amizade deveria ser rompida. As lágrimas que naquele instante correm daqueles olhos desamparados, expressam a percepção que às vezes temos que não podemos mais amar aquele amor.
Dean irá abandonar e desamparar a todos que o amam, num impulso de repetição inconsciente do que o seu pai fez, desaparecer.
Aparecer e desaparecer, abandonar e ressurgir são os movimentos que o seu inconsciente o faz viver.
Todos temos um Dean dentro de nós..
Igualmente, temos também um Sal...
A questão é: Qual deles está conduzindo você na estrada?
O filme fala forte sobre o desejo de liberdade, mas fala também sobre o aprendizado que precisamos ter para retirarmos de nossos olhos a inocência em pensarmos “que no fundo, bem no fundo, ele é bom”, para entender que às vezes a bondade de uma pessoa está tão no fundo, coberta por inúmeras camadas de egoísmo que ela não conseguirá surgir na vida. A bondade de Dean está soterrada pelas suas neuroses.
Numa das últimas cenas do filme resume o que parece que Jack Kerouac quis evidenciar como lição maior daquela estrada de cinco anos... ... Saindo de sua casa para um show, Sal reencontra Dean após o México. Dean está desamparado, só e tenta encontrar em Sal corrimão para se segurar diante do seu já deteriorado e trôpego equilíbrio emocional. Sensibilizado, emocionado mas firme em sua maturidade, Sal diz olhando nos olhos do ex-parceiro – “Gostaria de não precisar ir ao show de Jazz, mas preciso ir”.
Existe uma expressão popular “Mandar-se dizer na estrada” que significa ir embora, partir. Sair de um ponto para outro.
Tem momentos na vida que temos que tomar a decisão e o rumo que a razão nos aponta, mesmo que nosso coração esteja reticente e balançado.
São os momentos que precisamos como Sal “Mandar-se dizer na estrada” e partir para Pôr-se a Caminho da Boa Direção.


Assistir Na Estrada de Walter Salles com esses olhos psicanalíticos me fez apreciar muito este belo “on the road”.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Repetição Sonolenta de Si


Outro dia abri os olhos pela manhã e chovia. Resolvi ficar mais um pouco deitado, sem aquela pressa que o céu azul às vezes nos impõe e fiquei a pensar na pessoa que eu iria encontrar naquela semana após muito tempo.
Veio-me, neste devaneio dominical, o desenho da imagem dela no modo de ser, suas cenas, interjeições, suscetibilidades, corte de cabelo e pensei num sobressalto de percepção “Ela é a mesma desde sempre. Carrega numa valise trancada de si todos os seus eternizados aspectos”.
Somos afinal prisioneiros deste si mesmo?
Somos fadados à prisão perpétua de nossos caracteres?
É certo que precisamos do hábito para estabelecer um cotidiano produtivo, necessitamos também de coerência na nossa maneira de ser, no nosso modo de pensar. Para não parecermos seres esquizoides, temos uma linearidade na nossa edição diária de si mesmo.
Mas será que precisamos repetir todos os aspectos para sempre?
Uma vez li a declaração de um escritor que dizia que escrever um romance e construir um personagem exige sair de si mesmo. Exigia dele pensar através da ótica do contexto daquela história e o exercitava ver às vezes uma mesma situação sob uma nova psicologia.
Esteve em Paraty para um debate na FLIP deste ano, a escritora americana Jennifer Egan, que venceu o prêmio Pulitzer 2011 de ficção com “A Visita Cruel do Tempo” e em entrevista declarou: “Eu sinto que em tudo que faço estou sempre tentando evitar ao máximo o meu ponto de vista familiar demais” – e ela prosseguiu – “Para mim, escrever é um tipo de fuga. Não no sentido negativo, mas a diversão em escrever está na possibilidade de experimentar esse outro ponto de vista”. E, concluiu: “É um desejo comum ao ser humano, o de poder se tornar uma pessoa diferente por algum tempo”.
Queremos muito nos libertar de compromissos, pessoas, mas uma grande liberdade a ser desejada e treinada é aquela de decretarmos a nossa liberdade de experimentarmos um novo modo de ser no corpo, nas ideias, nos programas como se estivéssemos delineando uma pessoa que diga um novo texto ao mesmo contexto, diante de sua história.
Rotinas devem ser quebradas para experimentarmos o reacender do paladar... Vamos ao cinema, ao teatro, mas não precisa ser só as sextas feiras. Como alguns afirmam, “Para quebrarmos a rotina jantamos fora todos os sábados”. Original, não? Podemos sempre recorrer a um novo filme, mas podemos também experimentar uma nova estreia de si mesmo.
Mudamos móveis de lugar, mudamos cores nos tecidos, nas paredes, nos carros, mas vivemos por vezes com a ideia de que nosso modo de ser não pode ser modificado. Condenamos com isso a nossa alma a uma prisão perpétua de um repertório rígido e único de pensar e de viver.
Se não posso modificar a pessoa que iria encontrar naquela semana, posso transformar a que sou e que irá encontrá-la. Comecei logo pensando como um escritor de mim mesmo diante de um novo capítulo da minha história:
– Na manhã que acordei, vi que o sol que me faz sempre levantar e correr, naquele domingo estava oculto pelas nuvens e resolvi, como o céu, pensar o meu dia de modo diferente, para não fazer a repetição sonolenta de mim mesmo. 
Mudar é libertar a nossa alma da prisão perpétua de um si sem transformação.